Por Josias de Souza, na Folha Online:
José Graziano da Silva elegeu-se neste domingo (26) diretor-geral da FAO, braço da ONU nas áreas de agricultura e alimentação.
Na rodada final da disputa, Graziano prevaleceu sobre o ex-chanceler espanhol Miguell Angel Moratinos em votação apertada: 92 a 88.
Pesou em favor do brasileiro o apoio dos países árabes, da África, da Ásia e da América Latina.
Há mais de meio século não se via um embate tão acirrado pela poltrona de comandante da FAO, um caixa de US$ 1 bilhão.
A longevidade do senegalês Jacques Diouf no cargo dá ideia da pasmaceira. Ele chefiou a entidade por 17 anos.
A FAO voltou a ser cobiçada a partir de 2008, ano em que o mundo arrostou uma crise de alimentos.
Sobreveio a explosão dos preços dos produtos agrícolas. Um fenômeno que mostrou os dentes no final de 2009, rosnou em 2010 e ainda assusta em 2011.
Eleito sob Dilma Rousseff, Graziano deve o triunfo a Lula, cuja foto foi usada no material da campanha da FAO.
Vários dos delegados estrangeiros que votaram em Graziano creditaram a opção a Lula.
O ex-soberano deveria ter dado as caras na FAO, sediada em Roma. Na última hora, deu meia-volta.
Lula preferiu fugir do inconveniente dos previsíveis protestos da comunidade italiana, irritada com a não extradição do terrorista Cesare Battisti.
Graziano traz na biografia o título de um dos idealizadores do Fome Zero. Ele chefiou o pragrama no primeiro ano do governo Lula.
Hoje, poucos se dão ao trabalho de recordar. Mas o Fome Zero revelou-se um retumbante fracasso.
O limão só virou limonada depois que Lula transformou o malogro no Bolsa Família, resutado da unificação das bolsas herdadas da era FHC.
Graziano não tomou parte dessa segunda fase exitosa. Lula mandou-o passear.
Na FAO, Graziano promete “erradicar” a fome. Mas seu desafio mais urgente nem é demonstrar como vai converter utopia em realidade.
Antes, o apadrinhado de Lula terá de pôr em pé uma reforma na estrutura da FAO.
A lentidão e a ineficácia inquietam sobretudo os países ricos, que despejam mais dinheiro na bilheteria da FAO.
Graziano assume em janeiro de 2012. Terá quatro anos para provar-se capaz de descascar o abacaxi que perseguiu.
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