Por Josias de Souza, na Folha Online:
Durante os oito anos de reinado de FHC foram muitas as tentativas de intrigar o PSDB com o DEM.
Exergava-se no esforço pela separação um quê de civismo. Era preciso salvar a alma do PSDB, ativando-lhe a memória.
O longo convívio fizera o tucanato esquecer de suas origens. Olvidara-se de que, na certidão de nascimento, era social-democrata.
Aos pouquinhos, foi abandonando a castidade, rendeu-se à lascívia, encantou-se com os prazeres do fisiologismo.
O DEM, nessa época ainda PFL, pressentiu que a relação tinha futuro quando leu o Max Weber que FHC esquecera sobre a TV.
Encantou-se com o trecho que falava das duas éticas. Aderiu instantaneamente à “ética da responsabilidade”.
Em vários momentos, o rompimento esteve na bica de acontecer. Emperrava na hora da partilha dos bens.
O pefellê abria mão de tudo, menos do Palácio do Planalto. ACM insinuava que FHC também pertencia ao PFL.
Sem acordo quanto à divisão do patrimônio, o matrimônio foi mantido. Sobreviveu, aos trancos, fora do poder.
Agora, num estreitamento definitivo das diferenças, PSDB e DEM cogitam fundir-se. Diz-se que a fusão virá depois da eleição de 2012.
Fragilizados por um emagrecimento involuntário, as duas legendas vão virar uma. Farão por precisão o que não fizeram por opção.
A pseudosocial-democracia do tucanato, cadáver insepulto, vai finalmente descer à cova. Descansará em paz.
Recomenda-se reservar ao lado espaço para outra sepultura. Ali, no futuro, será enterrado o pseudosocialismo do PT, temporariamente amasiado com o PMDB.
– Em tempo: Ilustração é de Humberto, via ‘Jornal do Commercio’
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