Por Josias de Souza, na Folha Online:
Embora FHC tenha providenciado para que a transição de seu governo à gestão Lula fosse civilizada, o tucanato sonegou ao petismo a transferência do catálogo de incivilidades praticadas no balcão da fisiologia.
Lula teve de compor os escalões inferiores de sua gestão no escuro. Sem o mapa das nomeações, levou tempo para descobrir onde se escondiam todos os apadrinhados dos aliados do antecessor. Entre eles os protegidos do ex-PFL, hoje DEM.
Sob FHC, os operadores do balcão agiam com método. Em suas planilhas, os congressistas eram divididos em três grupos. No primeiro, acomodaram-se os "ideológicos". Incluíam as bancadas do PT, que faziam oposição radical ao governo.
No segundo grupo, listaram-se os parlamentares "temáticos", que condicionavam o voto ao convencimento técnico. A esses, o governo provia explicações, não cargos. O último grupo, apelidado de "geléia geral", concentrava a turma do "que é que eu levo nisso".
Compunham a "geléia", só na Câmara, algo como 150 parlamentares. Impossível aprovar emendas constitucionais sem a ajuda dessa gente. Para amolecê-los, o governo via-se compelido a distribuía poltronas e verbas orçamentárias.
A despeito de ter sido privado do contato com a planilha confidencial da era FHC, Lula levou o abdômen ao balcão já no início de seu primeiro reinado. Com a ajuda de José Dirceu, o “capitão do time” de então, o “novo” governo chegou, com métodos próprios, aos mesmos resultados.
Em tempo: Ilustração via Miran Cartum.
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