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O Homem que Calculava

Por Luiz Claudio Romanelli

Malba Tahan narrou em “O Homem que Calculava”, um dos seus livros, a história de Bereniz Samir, um viajante com o dom intuitivo da matemática, manejando os números com a facilidade de um ilusionista.

Com esse paralelo incomum, faço a réplica ao economista Belmiro Valverde, que em artigo desairoso no penúltimo domingo (3) na Gazeta do Povo questiona o meu protesto contra o abuso do pedágio no Paraná e tenta desqualificar minha atitude afligindo-se em lições de moral, ilações, conjecturas e outros quetais.

Não foi nenhuma surpresa ler um dos autores intelectuais do modelo de pedágio implantado no paraná defender suas teses e me atacar publicamente. Belmiro Valverde, para quem não sabe, fez os estudos macroeconômicos que fundamentaram esse modelo tarifário abusivo implantado no governo Jaime Lerner.

É autor ainda de outros estudos que respaldam os argumentos da ABCR pelos aumentos das tarifas perante a opinião pública. Em matéria da Gazeta Mercantil de 26 de dezembro de 2006, a ABCR, acossada pela redução do pedágio cobrada pela Ocepar e Faep, apresenta um estudo de Belmiro colocado como taxativo. “a utilização de rodovias em bom estado de conservação reduz o custo operacional do transporte de cargas em 2%, ‘após o pagamento de todos os itens de despesa, inclusive os pedágios’. Segundo ainda Valverde, um outro estudo, de 2002, estimou o benefício líquido em um patamar ainda maior: 6%, após o cômputo de todas as despesas”, diz a matéria da Gazeta Mercantil.

Na mesma matéria, a Ocepar e a Faep afirmavam que o impacto das 26 praças de pedágio estaduais sobre o frete de grãos varia de 16,54% a 23,12%, sendo mais um componente do chamado custo Brasil a causar perdas de competitividade da soja e do milho em relação aos concorrentes argentinos e norte-americanos.

No artigo do último domingo, Belmiro se esquiva e não vai ao cerne da questão que considero fundamental na retomada deste debate: Por que o pedágio é tão caro no Paraná? Por que as concessionárias lucram tanto (R$ 5,6 bilhões em arrecadação nos últimos dez anos)? E por que as concessionárias não querem reduzir as tarifas? Belmiro faz essa discussão porque está comprometido com uma parte dela, ou seja, com as concessionárias e com os mentores dessa desfaçatez, escárnio e esperteza que sucumbiu o Paraná entre 1995 e 2002. O adjetivismo vem do próprio artigo de Belmiro.

As teses do estudo de Belmiro há muito foram pelo ralo, provaram-se, no mínimo, equivocadas. O estudo macroeconômico resultou em benefícios tão obtusos e excludentes e não previu a tamanha sangria a economia do Paraná.

Lembro-me de que na época da escravidão, estudos semelhantes de ideólogos do latifúndio escravocata previam a estagnação econômica brasileira em caso da libertação dos negros. Paralelos à parte como fez Belmiro no seu artigo, é dessa forma que os paranaenses se sentem nos últimos dez anos: escravos dos senhores das concessionárias e que usam de todos os argumentos, artifícios, pressões e, é claro, do poder econômico, para nos perpetuar na condição de escravos.

Em setembro passado, Belmiro foi se explicar na Comissão Especial de Investigação do Pedágio na Assembléia Legislativa, e se esmerou no legalismo ritualista, corporativismo insensível e na certeza da impunidade na defesa das concessionárias. No seu depoimento, menosprezou as ações judiciais contra os aumentos abusivos e defendeu a esperteza miúda e rastaqüera dos contratos firmados pelo governo passado. Belmiro fez ainda loas à tese do seu estudo. Deu a entender que estava certo e que o Paraná é que errou ao mudar o rumo da sua economia, da sua política e das suas prioridades.

Finalizo com parte das palavras de Belmiro, mas com algumas correções: quando, no futuro, se escrever a história de nossos tempos, o pedágio e seus formuladores farão parte do capítulo que, até por uma questão de compostura, os paranaenses gostariam de ter esquecido.

Luiz Cláudio Romanelli, especialista em Gestão Técnica do Meio Urbano, é deputado estadual e líder do governo na Assembléia Legislativa.

O Homem que Calculava

O Homem que Calculava

LUIZ CLAUDIO ROMANELLI
 
Malba Tahan narrou em “O Homem que Calculava”, um dos seus livros, a história de Bereniz Samir, um viajante com o dom intuitivo da matemática, manejando os números com a facilidade de um ilusionista.

Com esse paralelo incomum, faço a réplica ao economista Belmiro Valverde, que em artigo desairoso no penúltimo domingo (3) na Gazeta do Povo questiona o meu protesto contra o abuso do pedágio no Paraná e tenta desqualificar minha atitude afligindo-se em lições de moral, ilações, conjecturas e outros quetais.

Não foi nenhuma surpresa ler um dos autores intelectuais do modelo de pedágio implantado no paraná defender suas teses e me atacar publicamente. Belmiro Valverde, para quem não sabe, fez os estudos macroeconômicos que fundamentaram esse modelo tarifário abusivo implantado no governo Jaime Lerner.

É autor ainda de outros estudos que respaldam os argumentos da ABCR pelos aumentos das tarifas perante a opinião pública. Em matéria da Gazeta Mercantil de 26 de dezembro de 2006, a ABCR, acossada pela redução do pedágio cobrada pela Ocepar e Faep, apresenta um estudo de Belmiro colocado como taxativo. “a utilização de rodovias em bom estado de conservação reduz o custo operacional do transporte de cargas em 2%, ‘após o pagamento de todos os itens de despesa, inclusive os pedágios’. Segundo ainda Valverde, um outro estudo, de 2002, estimou o benefício líquido em um patamar ainda maior: 6%, após o cômputo de todas as despesas”, diz a matéria da Gazeta Mercantil.

Na mesma matéria, a Ocepar e a Faep afirmavam que o impacto das 26 praças de pedágio estaduais sobre o frete de grãos varia de 16,54% a 23,12%, sendo mais um componente do chamado custo Brasil a causar perdas de competitividade da soja e do milho em relação aos concorrentes argentinos e norte-americanos.

No artigo do último domingo, Belmiro se esquiva e não vai ao cerne da questão que considero fundamental na retomada deste debate: Por que o pedágio é tão caro no Paraná? Por que as concessionárias lucram tanto (R$ 5,6 bilhões em arrecadação nos últimos dez anos)? E por que as concessionárias não querem reduzir as tarifas? Belmiro faz essa discussão porque está comprometido com uma parte dela, ou seja, com as concessionárias e com os mentores dessa desfaçatez, escárnio e esperteza que sucumbiu o Paraná entre 1995 e 2002. O adjetivismo vem do próprio artigo de Belmiro.

As teses do estudo de Belmiro há muito foram pelo ralo, provaram-se, no mínimo, equivocadas. O estudo macroeconômico resultou em benefícios tão obtusos e excludentes e não previu a tamanha sangria a economia do Paraná.

Lembro-me de que na época da escravidão, estudos semelhantes de ideólogos do latifúndio escravocata previam a estagnação econômica brasileira em caso da libertação dos negros. Paralelos à parte como fez Belmiro no seu artigo, é dessa forma que os paranaenses se sentem nos últimos dez anos: escravos dos senhores das concessionárias e que usam de todos os argumentos, artifícios, pressões e, é claro, do poder econômico, para nos perpetuar na condição de escravos.

Em setembro passado, Belmiro foi se explicar na Comissão Especial de Investigação do Pedágio na Assembléia Legislativa, e se esmerou no legalismo ritualista, corporativismo insensível e na certeza da impunidade na defesa das concessionárias. No seu depoimento, menosprezou as ações judiciais contra os aumentos abusivos e defendeu a esperteza miúda e rastaqüera dos contratos firmados pelo governo passado. Belmiro fez ainda loas à tese do seu estudo. Deu a entender que estava certo e que o Paraná é que errou ao mudar o rumo da sua economia, da sua política e das suas prioridades.

Finalizo com parte das palavras de Belmiro, mas com algumas correções: quando, no futuro, se escrever a história de nossos tempos, o pedágio e seus formuladores farão parte do capítulo que, até por uma questão de compostura, os paranaenses gostariam de ter esquecido.

Luiz Claudio Romanelli, especialista em Gestão Técnica do Meio Urbano, é deputado estadual e líder do governo na Assembléia Legislativa.