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Ética jornalística

Um jornalista brasileiro de um grande órgão da imprensa afirmou numa conferência que, quando um deles se senta para escrever um texto, pensa em três coisas (não me lembro se a ordem era esta ou se tinha sentido hierárquico ou não): nas fontes; no dono do jornal; nos colegas desempregados do lado de fora da redação.

 

Pode ser útil esse enfoque para entender essa espécie de unanimidade que se instaurou na grande mídia. Se toda unanimidade é burra – como chamar a esta?

 

Com a exceção do Zé Simão, pode-se dizer que nenhum outro colunista regular dos órgãos de maior tiragem e maior audiência desses órgãos deixa de se identificar com a posição dos proprietários das publicações onde trabalham. Nem sequer aparência de neutralidade. Todos parecem soldados, cabos ou tenentes de um mesmo batalhão, cada um atacando com a arma que lhe corresponde. Mas o alvo é sempre o mesmo.

 

Como se sentirão os jornalistas que agem dessa maneira? Que consciência têm do papel que estão desempenhando? Será que se dão conta de como estão jogando pela janela a credibilidade que tiveram – ou que acreditam ainda ter?

 

Se sentem cômodos em coincidir rigorosamente com a posição dos proprietários da empresa em que trabalham? Não olham para os outros espaços – do jornal, revista ou TV -, para se darem conta como estão todos escrevendo cada vez mais igual?

 

Se pensam nas fontes, no dono do jornal e nos desempregados (não para protegê-los, mas com medo de se tornar um deles), que compromisso com a verdade, com a democracia, com o país e com o povo se pode esperar deles? Talvez esse enfoque ajude a entender a pior crise de credibilidade da grande mídia brasileira – depois daquela do golpe e da ditadura militar, com que todos eles estiveram comprometidos.

 

Não serão os jornalistas da grande mídia quem enfrentará este enorme problema, sem cuja resolução nunca haverá democracia política no Brasil. Cabe à esquerda e aos democratas em geral enfrentá-lo. Blog do Emir