A grande reportagem deste domingo, num série de seis matérias, é de Celso Felizardo e Lucio Flávio Cruz na Folha de Londrina, na qual revelam que dos 399 municípios do Paraná, 138 não tiveram nenhum homicídio registrado no ano passado. Em 2012, foram 133 cidades. Os dados são da Secretaria Estadual da Segurança. O número de assassinatos diminuiu de 3.135 há dois anos para 2.572 em 2013, uma redução de 17,95%. Das 138 cidades, todas têm menos de 20 mil habitantes e 77 não registram crimes contra a vida desde 2012.
O Vale do Ivaí, por exemplo, tem 15 cidades livres de assassinatos. Na região de Londrina os homicídios caem 42% e em Guaraci, o último assassinato ocorreu em 2009. Das 21 Subdivisões Policiais (SDPs) do Estado, a 17ª, com sede em Apucarana (Centro-Norte), é a que apresenta o maior número de cidades com “homicídio zero”: 15 de um total de 26. Em 2012, eram 14 municípios.
Por outro lado, as dez cidades que compõem a 18ª SDP, sediada em Telêmaco Borba (Campos Gerais), registraram ao menos um assassinato nos últimos dois anos. Na 10ª SDP de Londrina, o número de municípios sem homicídios cresceu de cinco em 2012 para sete em 2013. Guaraci, Lupionópolis, Miraselva e Pitangueiras são as cidades mais seguras da região e não registraram nenhum homicídio desde 2012.
Do total das SDPs, 11 tiveram aumento no número de municípios com “homicídio zero” de 2012 para 2013. Quatro mantiveram o mesmo número de cidades e seis viram cair o percentual de municípios.
Para o delegado da Divisão de Polícia do Interior (DPI), Rogério Antônio Lopes, a participação mais efetiva da comunidade nas cidades menores contribui para a diminuição dos casos. “A segurança pública hoje não tem mais uma característica estanque, ela tem suas bases nas nuances sociais. Não tenho dúvidas de que quanto mais a sociedade se comprometer, com programas de inclusão social, mais o número de crimes irá diminuir. O comprometimento do cidadão com o local onde ele vive é fundamental. A responsabilidade da polícia é conquistar a confiança dessas pessoas para que o trabalho possa acontecer em conjunto”, frisa Lopes. A DPI é responsável pelo policiamento de 376 municípios paranaenses.
A professora Ana Lúcia Rodrigues, coordenadora do Observatório das Metrópoles do Núcleo da Universidade Estadual de Maringá (UEM), relata que a ausência de crimes contra a vida em cidades pouco populosas é histórica e que de um ano para o outro não é possível analisar os avanços das políticas públicas de segurança.
“Quando acontecem homicídios nestes locais estão relacionados, na sua maioria, a crimes passionais, já que não há presença do crime organizado e do tráfico de drogas e armas, apesar de que a droga em si já está disponível aos moradores. Bom mesmo é quando os índices de assassinatos caem também nas grandes cidades por um período contínuo. A partir daí poderemos relacionar as políticas públicas de segurança com as sociais e educacionais”, pontuou.
As três maiores cidades do Paraná apresentaram uma diminuição dos homicídios nos últimos dois anos. Curitiba registrou 597 crimes contra a vida em 2012 e 530 no ano passado. Em Londrina, foram 111 assassinados em 2012 contra 71 em 2013, uma redução de 36%. Em Maringá, o número caiu de 64 para 63.
O professor de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) de Curitiba, Cezar Bueno, ressalta que a diminuição de homicídios é positiva, mas que os números do Paraná não devem ser comemorados, uma vez que a “situação continua grave”. “O Estado precisa melhorar a sua capacidade de investigação e prevenção dos crimes. A maioria dos assassinatos não é cometida por cidadãos comuns. É necessário aumentar o índice de elucidação dos crimes para que traficantes, matadores de aluguel e justiceiros sejam retirados do convívio da sociedade”, frisa Bueno.
De acordo com Rogério Antônio Lopes, a evolução da criminalidade nos últimos 30 anos tem muito a ver com o crescimento das cidades. “Com a expansão das cidades houve uma perda da ocupação dos espaços públicos, a desvalorização da rua. A perda possibilita o avanço da criminalidade. A solidariedade nos pequenos municípios contribui de um modo decisivo na não ocorrência deste tipo de crime”, ressalta.
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