Leandro Narloch (Folha de São Paulo)
Ninguém aumentou tanto a pobreza no último século quanto pessoas que acreditavam em duas coisas: que defendiam os pobres e que entendiam de economia.
Na Índia, na África e na América Latina, políticos e intelectuais se encantaram pela ideia de que era preciso lutar pela independência econômica, não só pela independência política. Essa ideia inspirou governos a proibir importações (até mesmo de fertilizantes), nacionalizar empresas, coletivizar fazendas e controlar preços.
Na Etiópia, o ditador Mengitsu (um Hugo Chávez dos anos 1970, que recebeu apoio militar e financeiro e até visitas de Fidel Castro) causou uma crise de fome que matou 400 mil pessoas em suas fazendas coletivas. A Tanzânia, maior exportadora de alimentos da África em 1962, se tornou a maior importadora em 1980. A Índia independente conseguiu ficar ainda mais miserável que quando era explorada pelo Império Britânico.
No Brasil, acreditando que a inflação era causada pela ganância de comerciantes, políticos criaram um tabelamento de preços que deixou o país sem carne e leite. Na Venezuela, bem, sobre a Venezuela todos sabemos.
Essas tragédias mostram que é preciso ter cuidado ao falar sobre economia. É bom questionar diversas vezes a própria opinião antes de sair por aí gravando manifestos. Isso vale especialmente para artistas e pessoas com alguma influência.
“Quem tem medo de artista?”, perguntou Wagner Moura na Folha desta segunda-feira. Ele acredita que o medo que brasileiros nutrem contra seu ativismo é o mesmo que leva artistas a serem “censurados, torturados e assassinados”.
Não temos medo de Wagner Moura, mas de sua ignorância econômica. Não temos medo de artistas, mas da irresponsabilidade de muitos deles ao falar sobre o que não conhecem. “Não é um crime ser ignorante em economia”, diz o ultraliberal Murray Rothbard. “Mas é uma total irresponsabilidade ter uma opinião barulhenta e vociferante em questões econômicas enquanto se permanece nesse estado de ignorância. ”
Wagner Moura poderia se perguntar por que o governo insiste num assunto tão impopular quanto a reforma na Previdência. Se a reforma não é necessária, se não há rombo nas contas, para que perder eleitores com ela? Será que Michel Temer tem um desejo de prejudicar os aposentados maior que sua ambição política?
Talvez o ator entenda que é preciso “encarar a reforma da Previdência”, pois “não é possível que a idade média de aposentadoria das pessoas no país seja de 55 anos”, como afirmou no ano passado Dilma Rousseff, a presidente que Wagner Moura tanto apoia. Ou porque, como diz o economista Paulo Tafner, o Brasil pode se tornar “uma Grécia, mas numa escala mais louca e colossal” se não resolver essa crise.
Temos medo das opiniões de Wagner Moura porque ideias têm consequências —muitas vezes, desastrosas.
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