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“Não há vontade” de deixar o governo do estado, afirma Ratinho Junior

Pré-candidato ao Palácio Iguaçu, ele evita criar atritos com Richa depois dos problemas surgidos na eleição de Curitiba e diz ser cedo para falar de 2018

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Euclides Lucas Garcia, na Gazeta do Povo

Pré-candidato ao governo do estado, Ratinho Jr. (PSD) calcula bem as palavras e evita qualquer declaração que possa colocar ainda mais obstáculos nos quase dois anos que levarão à eleição de 2018. Os últimos 15 dias não foram positivos para o secretário de Estado do Desenvolvimento Urbano e deputado estadual licenciado. Viu o governador Beto Richa (PSDB) cobrá-lo publicamente por ser atacado na campanha de Ney Leprevost (PSD) à prefeitura de Curitiba; teve de assimilar a derrota do aliado na eleição da capital; e passou a conviver com a sombra do ex-senador Osmar Dias (PDT) na briga para ser o candidato do Palácio Iguaçu daqui a dois anos – já há a concorrência da vice-governadora Cida Borghetti (PP).

Com tantos reveses, Ratinho procura ser o mais conciliador possível ao falar sobre Richa e o caminho até 2018. “É muito cedo para discutir isso. Cada partido procura se posicionar e se viabilizar. Nossa preocupação é poder apresentar um bom plano de governo, consolidar nosso projeto para o estado.” Negando qualquer intenção de deixar o governo neste momento, ele ainda rebate as análises de que a derrota de Leprevost possa comprometer o objetivo de se eleger governador. “O Ney perdeu eleitoralmente, mas ganhou politicamente. Tornou-se um grande ator no processo de 2018”, avalia.

Na última semana antes do segundo turno em Curitiba, o governador Beto Richa disse que iria cobrar o senhor e o ex-secretário Eduardo Sciarra a respeito dos ataques que vinha sofrendo da campanha do candidato Ney Leprevost, que é do partido dos senhores. Como foi essa conversa?
Não cheguei a conversar com o governador, estava na correria de campanha, não só em Curitiba. Mas o Sciarra conversou, deixou uma posição clara para ele e tudo ficou bem explicado. Ele entendeu que a eleição em Curitiba era como qualquer outra no interior. Em Cascavel, o PSDB estava com outro candidato, em União da Vitória, em Maringá, onde também houve ataques.

O posicionamento pessoal do Ney com o Greca era uma coisa pessoal deles. Isso não quer dizer que nossos 14 deputados estaduais e cinco federais tinham posicionamento de acordo com a campanha eleitoral entre os dois. Isso ficou claro, e o próprio governador entendeu que eu e o Sciarra não estávamos nessa linha da campanha. Nossa participação era de articulação política, de buscar vereadores, trazer lideranças. A estratégia de tevê era do núcleo da campanha ligado ao Ney, aos publicitários dele, que não eram os meus. Eu e o Sciarra tínhamos participação muito mais política que de visão estratégica.

O senhor acredita, então, que a campanha do Ney na televisão foi equivocada?
É difícil fazer qualquer análise quando passa a eleição, porque você fica só no achismo. Se você soubesse disso antes, sempre teria tomado a decisão certa. A questão do marketing foi um dos problemas. A campanha não conseguiu ter a mesma qualidade das inserções do Greca, era visível a maior qualidade do material, a linguagem mais clara. As estratégias de desconstrução usadas pelo Greca funcionaram muito bem, e a equipe do Ney não soube responder. Nossa equipe de rua era muito boa, mas toda campanha majoritária de capital é muito televisiva.

Mas o senhor não sugeriu ao Ney que mudasse a estratégia de marketing?
Eu cometi o mesmo erro na campanha passada. Alertei o Ney sobre isso, mas é difícil internamente tomar essa decisão com toda a equipe já integrada. Tínhamos de ter mudado a equipe de marketing na virada dos turnos, porque ali começa uma nova eleição. Era preciso ter dado uma oxigenada na estratégia.

O quanto o senhor acha que perde para a eleição de 2018 com a derrota de um aliado em Curitiba?
Nós não perdemos nada, só ganhamos com o Ney. Ele começou com 5 pontos [na intenção de votos] e terminou com 47%, inclusive desbancando o Fruet, que, pela lógica, deveria estar no segundo turno. O Ney perdeu eleitoralmente, mas ganhou politicamente. Agora, ele está em outro patamar no meio político do Paraná. Ganhamos um aliado forte, que se transformou em protagonista no processo eleitoral não só para 2018. O Ney mudou de estatura política, comprovou que é um cara bom de voto, soube debater a cidade. Ele criou musculatura para o nosso time − que fez sete vereadores − e tem boa parte do eleitorado de Curitiba que confia no trabalho dele. Tornou-se um grande ator no processo de 2018. O Ney é um grande vitorioso depois dessa eleição. É um cara importante para nos ajudar na articulação política com prefeitos da região metropolitana e também pessoas do interior do estado, que colaboraram com ele nesta eleição.

Diante das divergências criadas entre os grupos políticos do senhor e do governador na eleição de Curitiba, existe a possibilidade de o senhor deixar a Secretaria do Desenvolvimento Urbano?
Essa decisão não se toma sozinha. É uma decisão que passa pela nossa bancada e pelo próprio governador. Estou preparado para cumprir a missão de colaborar com o Paraná, como secretário e como deputado. Acredito que tenho feito isso de forma eficiente na secretaria, batendo recordes na liberação e repasse de recursos aos municípios, no volume de investimentos em todo o estado, diminuindo a burocracia entre prefeituras e o estado. Além disso, não vejo preocupação tão grave sobre isso por parte do próprio governador. É mais um desejo de pessoas que estão no entorno dele, de quem deseja estar no posto de secretário mais com interesses pessoais.

O senhor acredita que ganha mais politicamente estando na secretaria, aliado ao governador, ou na Assembleia Legislativa, liderando 14 deputados?
Nunca fiz essa avaliação política, nem isso está em discussão neste momento. Minha missão não é estar secretário por ganhar mais ou menos, mas pensando em contribuir com o estado, melhorar a vida das pessoas. O governador tem o peso dele, fez muito prefeito no estado. Popularidade de políticos sobe e desce conforme o momento do país todo. Não dá para tomar decisões pensando apenas nisso. Volto a dizer que isso não entrou em cogitação até o momento. O governador não fez nenhum tipo de manifestação para que a gente saia do governo. Nem é da vontade dele. E para nós também não há essa vontade.

Como o senhor avalia a posição de aliados do governador, de que ele apoie o ex-senador Osmar Dias para o Palácio Iguaçu em 2018?
É natural que isso aconteça, apesar de ser cedo. O governador é muito inteligente e não está fazendo isso pessoalmente, não está tomando essas decisões. Obviamente dentro e fora do governo há muitas pretensões. Se ele [Richa] começa a fazer articulações neste momento, vai criar um problema para ele internamente. O governador vai tomar qualquer tipo de decisão em 2018 no momento em que tiver de sair para se candidatar ao Senado, caso necessário. Que os partidos se movimentem é natural, eles podem e devem colocar as suas candidaturas.

Mas que movimentos o grupo PSD-PSC vem fazendo desde já para evitar que outros candidatos surjam entre os aliados do governo?
É muito cedo para discutir isso. Cada partido procura se posicionar e se viabilizar. Portanto, não podemos ficar dependendo de outros partidos, vamos, sim, buscar aliados. Mas alguém que se dispõe a ser protagonista tem de fazer a lição de casa. Estamos buscando nos fortalecer com outros partidos, prefeitos e deputados. Nossa preocupação é poder apresentar um bom plano de governo, consolidar nosso projeto para o estado.

Sua candidatura ao governo em 2018 é definitiva?
Isso quem vai definir é o partido. Não posso decidir isoladamente. Queremos poder apresentar uma opção para o Paraná. Fico feliz de o Sciarra dizer o meu nome [como pré-candidato]. Ele próprio tem condições de disputar o governo e também o Senado. O partido vai trabalhar isso.

Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo