Ainda sem confirmar a candidatura para a prefeitura de Curitiba neste ano, Ratinho Jr. (PSC) já fala como se fosse disputar o pleito. Entrevistado na série de sabatinas da Gazeta do Povo com pré-candidatos, ele comentou a gestão de Gustavo Fruet (PDT) e a classificou como “mediana”, sem nenhuma obra de grande impacto.
Em entrevista a Euclides Lucas Garcia e Rogerio Waldrigues Galindo, na Gazeta do Povo, ainda garantiu que a primeira medida a tomar caso assumisse a prefeitura da capital seria reintegrar o sistema de transporte público. Os problemas decorrentes da desintegração, segundo Ratinho Jr. são “100% de erro” de Fruet.
Veja a entrevista:
O senhor vai ser candidato?
Essas decisões não passam por uma decisão isolada, apenas uma vontade própria. Acredito que, com tudo o que está ocorrendo no Brasil neste momento, essas decisões precisam ser refletidas mais profundamente. O que acontecer neste primeiro semestre vai ser muito determinante. Mas a vontade existe.
O que o sr. faria diferente hoje da eleição que perdeu para o prefeito Gustavo Fruet (PDT)?
Não sei se faria muito diferente. O PT usou de todas as forças possíveis para nos derrotar no segundo turno. Usaram dos mecanismos para poder ganhar Curitiba e ganharam. Eu fiz o meu esforço, tive alguns erros, mas acho que também era o momento do Gustavo ser o prefeito com toda essa força do governo federal. Talvez essa falta de padrinhos políticos tenha me deixado “questionável”. Curitiba tem um eleitor muito conservador. O Gustavo faz parte da elite curitibana, o pai dele foi prefeito. Foram jogos de estratégias e a deles no segundo turno foi melhor.
Houve preconceito por seu pai ser um apresentador de perfil popular?
Não vejo isso como preconceito. O curitibano não tem esse perfil. Vejo mais como uma decisão conservadora e de insegurança. Eu sou mais jovem. Eu acho que é natural, eu também veria com certo receio um jovem de 30 anos administrando uma cidade do tamanho de Curitiba.
O sr. pretende disputar o governo do estado em 2018?
Não sei. Está muito longe ainda. Tenho esse sonho. É uma coisa que está dentro do meu coração. Mas tem umas coisas que não dependem só de mim, dependem da minha vontade de poder realizar isso e de uma conjuntura. Dependem também do aval da população.
A bancada que o senhor coordena, do PSC, teve um papel preponderante na votação da reforma da Paranaprevidência. O senhor teria votado a favor?
Aquele pacote era necessário. Tinha que ser feito. O Paraná não tinha recurso para pagar o salário de outubro se não faz aquilo.
Sempre quando alguém ganha uma eleição diz que recebeu “uma herança maldita”. Mas o governador Richa deixou uma herança maldita para si mesmo?
Acho que foram alguns erros que o próprio governador Beto Richa acabou criando. Não tenha dúvida. Lógico, teve crise financeira. Houve uma diminuição de arrecadação. Você teve um aumento excessivo do servidor público e isso comprometeu totalmente o caixa do governo.
Na repressão aos manifestantes, no 29 de abril, o governo errou?
Eu tinha sugerido tirar a questão da educação [do projeto]. Acho que os deputados pensaram que votar de uma vez talvez seria mais fácil, porque o desgaste existe. Agora, onde há violência, há o erro de alguém. Mas a gente não pode esquecer também que houve uma motivação política muito grande. O Paraná é uma vitrine da Lava Jato, que está corroendo o PT. Eles tinham que criar algum fato político para tirar o centro das atenções da Lava Jato. E a gente sabe que teve uma motivação. Ninguém aqui é bobo. Talvez o erro tenha sido o governo ter entrado nesse jogo.
O sr. acha que teve uma provocação e o governo caiu nessa provocação?
Acho que teve. Acho que boa parte dos professores foram conduzidos… Não digo na questão da violência. Mas acho que aquela motivação raivosa… Houve uma condução que, no momento do calor, acabou se tornando um nervosismo coletivo, que levou ao erro de ambos.
O sr. teria o governador Beto Richa no seu palanque?
Possivelmente ele terá candidato no PSDB. É o que eles têm dito.
Existe alguma possibilidade de o PSC ter a vice de Fruet?
Isso vai ser discutido no momento oportuno. Acho difícil o PSC não ter candidatura própria.
Qual é a avaliação que o sr. faz da gestão Fruet?
Uma avaliação mediana. Sempre achei o Gustavo um bom parlamentar. Mas sempre tive muita clareza de que ele não seria um bom gestor. Ser gestor em Curitiba não é muito difícil. Se o prefeito não tomar decisão, a cidade vai relativamente bem, não para. Mas não me surpreende a gestão do Gustavo ser mediana porque eu não esperava que fosse fantástica. Ele deixou claro no debate do segundo turno que não tinha experiência administrativa. E quem não tem experiência administrativa tem dificuldade de montar uma boa equipe, de tomar decisão, de fazer um bom planejamento. Não me frustra porque não tinha expectativa de ser uma gestão espetacular.
O sr. diz que gerir Curitiba é fácil, o prefeito Fruet diz exatamente o contrário, que esse é o momento mais difícil de gerir a cidade em 50 anos por falta de orçamento.
O problema está em todas as esferas da vida pública, é um momento difícil. Isso do orçamento é questionável: o orçamento era de R$ 6,7 bilhões e hoje passa de R$ 8 bilhões. E o governo do estado repassou R$ 1,25 bilhão de ICMS e IPVA, R$ 180 milhões a mais do que em 2014. A dívida era de R$ 300 milhões e hoje já dobrou. E isso sem nenhuma obra de grande impacto. Esse discurso não me convence.
A desintegração do sistema ocorreu numa negociação com a Comec, que fica na sua secretaria. Foi culpa do prefeito?
Cem por cento. O governo do estado dava subsídio. Deu para o Luciano [Ducci], quase triplicou o subsídio na gestão do Fruet. Eles não tinham nenhum dado que comprovasse o peso da região metropolitana na tarifa. Depois que fizemos um estudo, comprovamos que o que a Urbs dizia não era verdade e eles não tinham nenhum documento para fazer contraponto. O presidente da Urbs chegou a dizer que o que fazia o sistema ser caro era a região metropolitana e que, se não fosse por isso, eles conseguiam até baixar a passagem. Hoje está comprovado que o sistema de Curitiba está falido, que precisa de subsídio.
O sr. diz que a região metropolitana não trazia mais custos, mas, com a desintegração, a tarifa em várias cidades subiu.
Mas tinha o subsídio que dava essa compensação. E a integração levava mais passageiros para Curitiba. A desintegração afetou principalmente a capital.
Nos primeiros dias da desintegração, houve problemas em várias cidades. Houve erro da Comec?
Imagina um sistema que há 25 anos era comandado pela Urbs. Aí dizem que em 30 dias tínhamos que assumir. Tínhamos dois funcionários para tocar 150 linhas e 500 ônibus. É natural que precise de um tempo para buscar técnicos, estudar. Agora, hoje temos o sistema mais moderno de bilhetagem, um sistema muito transparente, sem problema de código-fonte, sem greve a todo momento.
Reintegrar seria uma de suas primeiras medidas?
É a primeira medida que tomo.
Como não subir a tarifa?
Buscando melhorar o sistema de transporte. Minha proposta continua sendo o veículo leve sobre pneus, muito mais barato do que o metrô. O metrô é inviável no mundo inteiro. Tem que buscar outros modais.
O sr. mantém a promessa de dar uniformes para as crianças de escolas públicas?
Acho que é importante para a criança. Não que vá melhorar o desempenho na escola. Mas dá dignidade, ajuda a evitar constrangimento por estar com uma calça rasgada. Acho que chamou a atenção porque a mãe deixa de gastar dinheiro com roupa. Mas para a prefeitura é barato, o governo federal tem dinheiro para isso.
Como resolver a falta de vagas em berçários e creches?
Tem que partir para uma parceria com as creches particulares. Uma obra de creche demora de 18 a 24 meses. Nesse tempo já teve uma mudança demográfica. Para dar conta, tem que fazer uma parceria. Talvez um vale-creche. Mas isso é uma solução momentânea.
Como ter mais especialistas no atendimento de saúde?
A dependência da parceria com o governo federal é absurda. Tem que ter uma boa parceria com o governo do estado também, só a prefeitura não resolve. Precisa de uma boa articulação política. E uma coisa que não se faz na capital mas que dá muito resultado no interior são os mutirões nos bairros, para evitar que a pessoa precise ir ao posto de saúde.
Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
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