Prefeito eleito de Foz do Iguaçu com 75.289 votos, o deputado Reni Pereira (PSB) sabe que tem um enorme desafio pela frente. Recuperar a cidade que no inverso do ciclo econômico do País vem perdendo gente e empregos, e ainda tem que combater o estigma de ser fronteiriça. “Perdemos quase 60 mil pessoas nos últimos anos e a tendência é continuarmos perdendo. Queremos reverter isso desenvolvendo mecanismos de recuperação econômica”, disse Reni nesta entrevista exclusiva à Ideias.
Reni Pereira atendeu Ideias no seu gabinete na Assembleia Legislativa, após a sessão que aprovou a instalação da CPI do Ibope, a pedido dele, entre uma viagem a Brasília e sua ponte aérea com Foz do Iguaçu. “Agora a ponte aérea aumentou. Desde a eleição tenho viajado a Brasília. É lá que estão os recursos que Foz tanto precisa”, disse.
Em sua terceira eleição seguida em 10 anos, o advogado Reni Pereira é um parlamentar influente na Assembleia Legislativa pelo seu conhecimento na área tributária. O filho de agricultores é funcionário público estadual e se elegeu prefeito enfrentando até as pesquisas desfavoráveis do Ibope. “O resultado da eleição seria mais desvantajoso para o candidato oficial se não tivesse ocorrido esse crime eleitoral na véspera da eleição”, disse em relação ao Ibope. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Ideias: A eleição em Foz do Iguaçu se polarizou entre a sua candidatura e do atual vice-prefeito Chico Brasileiro (PCdoB), calçado pelas máquinas da Prefeitura e da Itaipu. Qual foi o diferencial da sua vitória?
Reni Pereira: O diferencial foi justamente manter a mesma linha que pautou toda minha vida pública: conversar com as pessoas. Isso me deu uma grande inserção junto ao povo de Foz, tanto que as projeções e pesquisas mantinham os mesmos índices há mais de um ano da eleição, nada tinha mudado. Foi o Ibope que tentou criar uma ilusão de mudança deste quadro, numa tentativa para atender o meu oponente.
Como isso se deu?
Em todas as pesquisas que fizemos nunca se registrou o candidato oficial chegando à casa dos 40 pontos. Da mesma maneira a minha candidatura nunca baixou da casa dos 50 pontos e, mesmo com a divulgação, há 12 horas da abertura das urnas para o início da votação, com uma pesquisa que o colocava com 52 pontos contra 44, ou seja, com a eleição dele consolidada, o resultado das urnas foi de 54 pontos para mim contra 44 dele. O resultado da eleição seria mais desvantajoso para o candidato oficial se não tivesse ocorrido esse crime eleitoral na véspera da eleição.
Em se tratando de Ibope, a CPI é para valer? Até que ponto ela pode chegar?
Vamos investigar como ocorreu isso. Tenho certeza de que os contratantes do Ibope também querem saber o que ocorreu, e acredito que o Ibope, por ser um instituto de, até então, maior credibilidade no Brasil, ele não se prestaria a se submeter a um pedido de mudança de resultados sem critérios científicos.
Temos que investigar o que ocorreu. Por que um resultado que há menos de 12 horas de divulgado muda vinte pontos em relação à divulgação? Alguma coisa muito grave ocorreu e nós temos de descobrir isso. O que não pode é uma pesquisa registrada, fundamentada em critérios científicos, dentro de uma margem de erro, extrapolar de forma absurda essa margem de erro.
Sua atuação parlamentar se pautou na busca da atração de grandes empresas, indústrias para Foz. Essa será uma das linhas de ação do seu governo?
Vamos trabalhar forte até porque entendo que é preciso fazer uma recuperação econômica de Foz do Iguaçu, criando oportunidades não só aos universitários, hoje temos uma cidade que coloca quase dez mil universitários formados por ano e temos que criar oportunidades para que essa riqueza, esse material humano fique, e o que percebemos é que o IBGE aponta um cenário de crescimento negativo para Foz.
Perdemos quase 60 mil pessoas nos últimos anos e a tendência é continuarmos perdendo. Queremos reverter isso desenvolvendo mecanismos de recuperação econômica. E, com certeza, a atração de investimento e principalmente o estímulo às empresas locais para aumentarem seu potencial de desenvolvimento e gerarem novas oportunidades.
Esse será o carro forte da nossa administração, apesar de várias oportunidades perdidas nos últimos sete anos em que tivemos uma lei que nos beneficiava em relação ao resto do Brasil, o que acabou fazendo com que a cidade de Pato Branco alterasse essa lei, que continua como Lei do Polo Tecnológico de Foz do Iguaçu, mas também beneficiando Pato Branco, que revolucionou sua economia, seu desenvolvimento com um mecanismo criado para Foz.
Vamos correr atrás desse tempo perdido levando empresas a investir nesse segmento em Foz.
A economia de Foz pode superar o binômio turismo e serviços em outras áreas como exportação, comércio com o Mercosul e assim por diante?
A proposta não é a concorrência entre segmentos. O turismo é o nosso principal gerador de empregos, só que gera hoje cerca de oito mil empregos diretos e queremos na verdade superar o marasmo da geração de oportunidades em Foz. Queremos superar aquele comodismo de pensar que as coisas acontecem naturalmente por ser Foz do Iguaçu.
Se você não correr atrás, não dotar a cidade de mecanismos para ocorrer investimentos, eles não vão ocorrer, mesmo na área do turismo. Queremos continuar desenvolvendo o turismo, esses serviços do comércio exterior, que são fortes em Foz, mas também criar mecanismos para gerar investimentos em outros segmentos.
Foz está por receber uma Unidade Paraná Seguro, tem o comitê integrado de fronteira de segurança, quais outras ações são necessárias na segurança para impactar a criminalidade, tráfico de drogas e a violência?
Foz do Iguaçu é uma cidade fronteiriça, onde ocorrem crimes de natureza comuns na fronteira, como o tráfico. Nós temos que buscar soluções que impactem isso tipo de problema. E a melhor solução é o caminho célere para o desenvolvimento econômico e social. Um projeto que gosto muito é Beira Foz – uma parceria dos governos municipal, estadual e federal – e que vai conseguir transformar o que hoje é um problema num espaço de geração de desenvolvimento, de atração turística, que é a beira do Rio Paraná e até uma parte do Iguaçu. Queremos fazer com que através da geração de oportunidades e de empregos possamos criar perspectivas para aqueles que hoje são encaminhados para o ilícito.
Apesar da saúde e segurança, duas áreas muito sensíveis em qualquer cidade brasileira, Foz ainda sofre com o desemprego, principalmente entre os jovens, o que a Prefeitura pode fazer?
Estive em Brasília e Foz é uma das poucas cidades que não recebeu recursos do ProJovem. Por quê? Não sei responder. Queremos qualificar a juventude, criar mecanismos, desde os colégios de ensino médio, quanto às faculdades, para dar essa qualificação e oferecer aos empresários que queiram investir ou aumentar a sua atividade, justamente esta capacitação do jovem.
Queremos que o poder público seja um vetor e um interlocutor entre a iniciativa privada, os colégios, as faculdades, ou seja, a academia, para oferecer esta mão de obra já qualificada de acordo com sua necessidade. Queremos também, na medida do possível, criar a Escola de Profissões, para que o jovem tenha a oportunidade para se apresentar no mercado de trabalho com mais capacitação.
Qual será sua relação com a Itaipu, já que a empresa investe, de forma considerável, na promoção do turismo de Foz?
Temos o projeto Beira Foz, que é uma parceria com Itaipu, temos um projeto do veículo leve, que foi apresentado no período eleitoral e que passa por uma parceria com Itaipu, já que um dos pontos de ligação será dentro de Itaipu. Temos a questão da parceria tecnológica nas escolas. Na área de meio ambiente, vamos formalizar uma parceria para, até no ano do centenário, buscar a revitalização e a recuperação dos rios de Foz, para que a cidade se volte para aquilo que ela tem de mais nobre, que é a preservação ambiental.
Também já tive uma reunião na Itaipu no sentido de regularizar as casas da Vila A. Temos em torno de 1,2 mil casas que precisam ser alienadas pela Itaipu para possibilitar a aquisição pelos atuais moradores, reforma ou construção de novas casas.
Outra proposta que apresentei durante a campanha, é a questão do paisagismo de Foz, do plantio de flores não apenas nos corredores turísticos, mas também nos bairros, através dessa parceria que será feita com a Secretaria de Justiça, para utilizar a mão de obra dos detentos, já conversei com o Jorge Samek no sentido de que Itaipu entre nesta parceria também. São várias ações que a Itaipu pode e tenho certeza de que será parceira de Foz.
Em 2014, Foz completa 100 anos. O que o senhor vai preparar e como será o centenário da cidade?
Queremos comemorar o centenário de Foz e vamos buscar parcerias para uma série de ações. Por exemplo, uma delas será com Portal de Entrada de Foz que depende do aval da concessionária, do Governo do Estado, do governo federal, já que é uma rodovia federal. Temos a questão de um novo centro cívico inclusive, dentro das questões de recuperação econômica de Foz, projetar uma nova prefeitura. Temos a construção de um teatro, a consolidação de um grande parque ambiental, uma área pública, a exemplo do Barigui (em Curitiba) e que não depende só de Foz, mas sim de uma articulação com o Ministério da Defesa, já que uma das áreas prováveis para se fazer isso seria onde nasceu Foz, onde está o Exército, para realocarmos em outro local.
O senhor tem ótima relação com o governador Beto Richa, quais ações, obras, projetos e programas que o Governo do Estado pode implementar em Foz? Já adiantou alguma coisa a este respeito?
Já tive várias conversas e acredito que o Governo do Estado vai investir em Foz, não por ser a cidade que vou administrar, mas por ser Foz um dos cartões-postais do Brasil e do Paraná. Aquilo de bom que é feito em Foz repercute positivamente no cenário nacional, e com certeza o governador será aliado neste sentido. Têm várias ações que queremos, não apenas as visíveis, mas na questão humana, desde a parceria na área de saúde, que contamos com o Governo do Estado para o credenciamento de algumas especialidades no Hospital Municipal no início do ano, como também outras parcerias na área social, através da Secretaria da Família.
Foz tem uma beleza ímpar, sua natureza é reconhecida mundialmente, mas trata muito mal seus rios, cursos de água e matas. Os parques lineares dos principais rios vão sair do papel?
O nosso esforço será para tirar do papel o que já é uma vontade da população, porque a recuperação destas áreas degradadas se consolidará como novos espaços tanto para os moradores como para os turistas.
Então, desde as questões do Parque Linear do Boicy, do Rio Monjolo, de várias cascatas que temos em Foz e que sequer são conhecidas pelos próprios iguaçuenses. Queremos buscar parcerias, recursos, seja na iniciativa privada, no poder público federal, estadual, para fazer com que estes espaços se convertam em locais agradáveis tanto para os turistas quanto para as famílias de Foz.
Também é nosso compromisso fazer com que as áreas públicas como as praças sejam recuperadas, iluminadas, para que fiquem agradáveis e não territórios dominados por usuários de drogas, por exemplo.
A Câmara de Vereadores aprovou recentemente o Codefoz, que é um plano de desenvolvimento econômico de Foz. Entre as metas estão um novo recenseamento e a recuperação da Ponte da Amizade. O que mais o Codefoz pode auxiliar sua administração?
É mais um instrumento para que tanto a sociedade e do poder público possam sair do campo da discussão, da teoria para a ação nas mais diversas áreas. Acredito que podemos potencializar o turismo na baixa temporada como também o turismo de eventos. Temos um potencial hoteleiro muito grande, com pouca comparação no Brasil.
Com o turismo esportivo, dotando a cidade de uma infraestrutura que permita captar eventos, desde o futebol, com um estádio apropriado. A própria construção de um autódromo, em parceria com a iniciativa privada. Poderemos através do turismo religioso, também implantar. No turismo cultural, e com o advento de um teatro, fatalmente colocaríamos Foz no circuito cultural.
Foz é o principal destino turístico do Paraná, mas ficou fora, até o momento, de ser uma potencial subsede da Copa de 2014. Pode ser que exista uma reversão ou o senhor vai trabalhar de outra forma?
Já estamos contando com a compreensão de importantes agentes neste processo como a própria CBF e a Fifa. Acredito que ainda é possível, apesar de reconhecer a exiguidade do tempo, de colocarmos Foz em condições de apresentar às seleções que vêm ao Brasil para que a tenham como subsede. Vamos trabalhar fortemente ainda nisso. Teremos de convencer a Fifa a nos dar um voto de confiança no projeto, já que até o começo do mês de janeiro não conseguiremos efetivar as melhorias que eles pedem.
Mas é possível canalizar, por exemplo, um maior número de pessoas independente se este projeto não andar…
Se eventualmente não nos consolidarmos como subsede, vamos trabalhar para que Foz seja inserida no roteiro oficial da Fifa, para que a maioria dos torcedores que vierem ao Brasil conheçam e visitem Foz. Agora, o ideal seria aproveitarmos toda a potencialidade que a Copa do Mundo pode dar, inclusive oportunizando a cidade de ser uma subsede. Infelizmente, algumas coisas que o Comitê Organizador solicitou não foram sequer explicadas o porquê não deram respostas e agora temos de correr contra o tempo.
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