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“Ano que vem o metrô deixa de ser viável”, diz Ratinho Jr.

Em entrevista a Gazeta do Povo, o deputado federal Ratinho Júnior (PSC) criticou o prefeito eleito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT). Ratinho disse que Fruet é “amigo” dos empresários que controlam o transporte coletivo e que vai atrasar as obras do metrô. Sobrou também para Gleisi Hoffmann, ministra da Casa Civil.

“Eu posso te dizer que eu não tenho o mesmo respeito que eu tinha por ela há quatro meses. Mudou. Continuo a respeitando, pelo cargo que ela ocupa hoje. Mas o mesmo respeito [de antes] não existe. Porque ela não teve por mim”, disse. Veja a seguir a entrevista na íntegra.

Gazeta do Povo – Há uma especulação forte sobre sua possível ida para uma secretaria do governo Beto Richa. O que há de verdade nisso?
Ratinho Jr. – A ida só pode acontecer a partir do momento em que tem um convite. Eu não tive nenhum convite formal do governador. Tudo que há hoje de especulação é por fofoca de imprensa, de bastidores da política. Agora, de concreto, isso não aconteceu. Então eu não posso nem avaliar qualquer tipo de convite. O que tenho que fazer é retomar o meu mandato e trabalhar pensando no futuro do Paraná.

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Mas houve algum tipo de conversa política com o governador, mesmo na época da campanha?
A conversa com o governador foi após a eleição, quando eu fui agradecer. Lógico, ele não se posicionou, ele ficou neutro, mas muitas pessoas como secretários e outras próximas a ele, amigos particulares, que nos ajudaram no segundo turno, ele não se opôs [a essas pessoas], ele não atrapalhou. Eu fiquei muito grato por essa atitude do governador, que poderia intervir e atrapalhar qualquer tipo de apoio a nossa candidatura. Essa foi a conversa, não houve nenhuma outra sobre ocupação de cargo. Nem ele me fez essa proposta, nem eu pedi isso a ele.

Qual é a sua perspectiva a partir de agora? É voltar para a Câmara?
Agora é trabalhar normalmente, como já vinha fazendo antes das eleições, como deputado, representando o Paraná. Claro que focando muito o trabalho em ajudar Curitiba, que foi uma cidade que me abraçou com muito carinho nessas eleições e me deu uma votação muito expressiva. Não posso deixar de lembrar que eu larguei no começo da campanha com 8% e saí com 40%. Mesmo que eu não tenha tido uma vitória eleitoral, nós tivemos uma vitória política, o reconhecimento da população.

E 2014? Muito se fala que o sr. poderia ser candidato a vice-governador ou voltar ao Paraná como deputado estadual.
Eu acho que não existe candidato a vice. Eu quero continuar o meu trabalho como deputado federal. Isso é uma avaliação que tem que ser feita com as lideranças que sempre me apoiaram, com os deputados do partido. Nós temos um grupo político e qualquer decisão passa por essas pessoas, que são importantes para esse projeto.

A que o sr. tem se dedicado após a eleição?
Na verdade, eu nem descansei. No outro dia eu já fui trabalhar na rádio, já voltei à minha rotina normal. Aí eu fiz uma viagem à China, uma viagem empresarial, e retornei trabalhando normalmente. Nesse tempo houve o nascimento do meu filho, que foi maravilhoso para a minha família, para mim. Agora é retornar ao trabalho partidário, rever todo o crescimento que tivemos no Paraná. Não podemos esquecer que fizemos seis vereadores na capital. Hoje nós somos o maior partido de Curitiba. Crescemos o desempenho em todo o estado, elegemos mais de 200 vereadores, 12 prefeitos, 26 vice-prefeitos. Agora é hora de fazer um trabalho para avaliar o futuro.

Já foi possível fazer uma reflexão final sobre como foi a sua participação na campanha de Curitiba?
Eu fiz uma avaliação muito positiva. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, que você fica entristecido, ressentido com uma derrota, eu saí muito alegre da campanha. Porque eu consegui me apresentar para Curitiba, que é uma cidade muito conservadora, muito tradicional nos seus conceitos. Consegui demonstrar que existe um outro Ratinho Jr., capacitado, com uma visão de gestão muito clara para a cidade, que tem um potencial político muito grande. Eu deixei uma imagem positiva em todos os debates. Isso não é dito por mim, é dito pelas pesquisas qualitativas que fizemos. Eu mostrei consistência. Antes das eleições, diziam que eu não seria candidato, que eu seria um cavalo paraguaio, que faria 10%, 12%, até menos. Eu sempre acreditei no meu talento e no talento das pessoas que estavam comigo. Não podemos deixar de esquecer que eu enfrentei o governo do estado, que estava apoiando o candidato da prefeitura, e um candidato que havia feito 600 mil votos na eleição anterior para o Senado e que estava com o apoio do governo federal. Mesmo assim, fomos para o segundo turno, e enfrentamos um cenário muito difícil. No segundo turno entramos em uma guerra de valores. Houve preconceito porque eu era jovem, porque eu tinha um apelido de Ratinho Jr. Eu não perdi para o Gustavo, eu perdi para o preconceito. Do Gustavo eu ganhei no primeiro turno, ficou muito claro isso. A força do governo federal foi muito pesada. Nos últimos dez dias oito ministros foram para Curitiba. O ministro da Saúde [Alexandre Padilha] foi lá e prometeu construir dois hospitais. E eu fiz uma campanha com quem? Sozinho, ou melhor, com meus amigos e com o meu pai.

Teve algo que, olhando hoje, poderia ter feito a diferença?
Talvez um trabalho mais estratégico. A gente poderia ter feito mais questionamentos sobre a coerência do Gustavo Fruet. Mas a gente fez o que era possível, não vejo motivo para querer achar agora um culpado.

Foi mais difícil o segundo turno pelo fato de os dois candidatos serem de oposição?
Pode-se dizer que sim. Como os dois candidatos que foram para o segundo turno eram os nomes da mudança, talvez o Gustavo tenha tido algum diferencial por ser de uma família tradicional da cidade, coisa que eu não sou. Isso pesou muito, isso foi jogado na campanha. E foi uma atitude preconceituosa. Além disso, o apoio de oito ministros deu um peso político maior para a futura gestão que ele propôs.

Se o governador tivesse apoiado o sr. no segundo turno isso poderia ser diferente?
Poderia. Não sei se nos daria a vitória, mas poderia ser porque o eleitor do Luciano Ducci, que possivelmente é do Beto, poderia ter se encaminhado mais para o nosso lado. O Gustavo era do time do Luciano, do Beto e por isso esse eleitor acabou migrando facilmente para ele.

Assim como o sr. fala do preconceito que sofreu, a sua campanha também não foi preconceituosa contra o PT?
Não houve preconceito contra o PT. Houve uma questão de posicionamento político. Uma coisa é questionar que hoje você está em um partido e amanhã em outro. É diferente de falar: você é feio, você é preto, você é homossexual. As críticas que eu fiz foram políticas. Eu não ataquei pessoalmente o Gustavo em nenhum momento. Eu nunca falei que ele feio, que ele era magro, que ele era baixo. Todos os questionamentos que eu fiz, que não foram muitos, foram políticos. Eles sim fizeram questionamentos preconceituosos. A Gleisi chegou a fazer uma declaração na televisão de que o candidato dela tinha nome e sobrenome.

Isso fica no passado ou continua na sua cabeça?
Eu sou um cara que tem sangue italiano e espanhol. Não se faz política com o fígado, mas vamos dizer assim: quem apanha não esquece. Eu sei o quanto eu apanhei.

Recapitulando: o sr. entrou na campanha como aliado do PT. Hoje, depois da campanha, como isso fica?
Com o governo federal, é um encaminhamento, eu não posso tomar uma posição política por mim contra um projeto de nação que o partido tem. Agora as questões políticas locais vamos avaliar caso a caso.

Ficou mágoa de quem? Esse caso da ministra Gleisi é um exemplo?
Eu posso te dizer que eu não tenho o mesmo respeito que eu tinha por ela há quatro meses. Mudou. Continuo a respeitando, pelo cargo que ela ocupa hoje. Mas o mesmo respeito [de antes] não existe. Porque ela não teve por mim. Então é natural que não exista. Quanto ao PT, tenho os maiores amigos lá. O PT não tem nada a ver com esse posicionamento. Vanhoni, Tadeu Veneri, Rosinha sempre tiveram meu respeito e vão continuar tendo. Mas isso faz parte do jogo.

Como será o posicionamento do PSC na Câmara de Curitiba?
Nós somos amigos da cidade e fiscais da gestão. Por exemplo: o Gustavo já não vai mais fazer a implantação do metrô. Jogou para o ano que vem. Está muito claro que ele é amigo do transporte coletivo da cidade de Curitiba, que não tem interesse nesse metrô. Para mim, essa é uma atitude que beneficia o transporte [atual] de Curitiba. Porque o R$ 1 bilhão que nós temos hoje disponível do governo federal já não é mais R$ 1 bilhão. Esse valor não tem reajuste, não está em um banco. Ano que vem o metrô deixa de ser viável.

Na sua opinião, esse atraso impossibilita o a obra?
Ele praticamente inviabiliza. Mudança paliativa ele faria em três meses, convocava uma equipe de técnicos e tocava. Mas agora, qualquer mudança brusca que ele faça vai precisar de licença ambiental, novo projeto de engenharia e tem que pedir autorização para o Ministério das Cidades, que vai reavaliar todo o projeto. Se ele fizer isso, já inviabilizou o projeto. E isso beneficia quem?

Na sua visão, beneficia os empresários do transporte coletivo.
Só beneficia eles, mais ninguém. Vamos deixar de ter o R$ 1 bilhão, mesmo valor destinado para Belo Horizonte e Porto Alegre, de maneira igual. Em 2020, Curitiba ainda não vai ter o projeto.

Que análise o sr. faz da transição na prefeitura?
Não tenho acompanhado. Mas essa medida do metrô, para mim, tem um lobby por trás. Não sei se ele está sabendo disso.

O sr. tocaria o projeto dessa forma?
Eu teria feito uma força-tarefa de técnicos da prefeitura, com o Crea, com o Instituto de Engenharia do Paraná e daria um prazo de no máximo quatro meses para que eles pudessem fazer uma avaliação profunda no projeto. Mas dentro daquilo que nós temos hoje, dentro do cronograma do governo federal, dentro do R$ 1 bilhão já garantido.