Bem Paraná
As eleições municipais de 2016 vão desafiar a capacidade dos políticos de aprenderem a dizer a verdade. A avaliação é do diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, para quem as decepções vividas pelos brasileiros após as últimas disputas, sucedidas pelas crises econômicas e políticas “vacinaram” o eleitorado contra promessas de campanha sem base real.
“A gente está entrando em uma fase em que quem falar a verdade vai ficar bem”, diz o cientista político. “Precisa começar a dizer a verdade. Eu acho que o político que começar a dizer a verdade vai ter o respeito popular”, prevê ele.
Essa inflexão, segundo Hidalgo, é geral e reflete o descrédito que atinge todos os níveis de poder. A presidente Dilma Rousseff (PT) foi reeleita com o discurso de que a crise econômica era apenas um discurso da oposição, e que nada iria mudar na política federal nesse plano. Passada a eleição, a petista foi obrigada a adotar a receita clássica da ortodoxia econômica, cortando gastos e elevando os preços dos serviços públicos. No Paraná, o governador Beto Richa (PSDB) se reelegeu garantindo que as finanças do Estado estavam em ordem, e que “o melhor estava por vir”. Dois meses depois de reeleito, o tucano encaminhou um pacote de aumento de impostos que elevou em 50% as alíquotas do ICMS e em 40% as do IPVA.
Não por acaso, tanto Dilma quanto Richa amargam hoje os mais baixos índices de aprovação popular. E perderam, inclusive, a possibilidade de influir em grandes fatias do eleitorado. “Antigamente fazia-se fila no Palácio Iguaçu para ver quem tiraria foto com o governador. No Palácio do Planalto para quem tiraria foto com a Dilma. Esse ano os fotógrafos vão quebrar”, brinca o diretor da Paraná Pesquisas.
Para Hidalgo, de nada adiantará aos candidatos a prefeito prometer, na campanha vindoura, que farão diferente. “Não adianta dizer que vai construir hospital. Ninguém vai acreditar, não tem médico no que tem”, explica. “Nós vamos ter político dizendo a verdade. Vai acabar essa história de ‘dias melhores virão’”, prevê.
Vantagem
Segundo Murilo Hidalgo, na disputa em Curitiba, pouca coisa mudou em relação a três anos atrás. Os dois principais candidatos – segundo as pesquisas – continuam sendo o secretário de Desenvolvimento Urbano, Ratinho Júnior (PSC) e o atual prefeito, Gustavo Fruet (PDT) – os mesmos que foram ao segundo turno em 2012. O único fato novo seria o deputado estadual Maurício Requião Filho, filho do senador Roberto Requião, que pode se beneficiar com o desgaste dos candidatos tradicionais.
Mesmo assim, os nomes mais conhecidos continuam em vantagem, avalia Hidalgo. Isso porque a campanha será mais curta e com menos recursos. O período de disputa foi reduzido pela metade, de 90 para 45 dias. A propaganda eleitoral no rádio e televisão diminuiu de Diminuiu de 45 para 35 dias. E uma decisão do Supremo Tribunal Federal proibiu as doações de empresas para campanhas. Além disso, a própria crise e as investigações da operação Lava Jato sobre o financiamento a partidos e políticos vai afugentar os doadores.
Na avaliação do pesquisador, isso traz outra novidade para as eleições deste ano: quem está no poder não terá a vantagem expressiva que tinha antes, mas mesmo assim, ainda terá alguma facilidade a mais. “Influência dos grandes eleitores diminuiu muito. Principalmente nas grandes cidades”, afirma Hidalgo. “Eles não vão largar com vantagem grande. Mas terão o mínimo de vantagem porque a eleição está mais curta e terá menos dinheiro na campanha. A máquina tende a pesar mais”, explica.
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